AS ALMINHAS UM PATRIMÓNIO A PRESERVAR


Alminhas, Ribeiros

As Alminhas são pequenos monumentos religiosos e são um dos vestígios mais importantes da arte popular portuguesa.
Não se tem qualquer certeza acerca da sua origem, mas sabe-se que a crença em deuses protectores dos caminhos e das encruzilhadas é muito antiga.
Como sabemos, antigamente, as viagens eram muito perigosas e os viajantes procuravam a ajuda dos deuses para os livrar dos perigos que tinham que enfrentar.
Os antigos gregos, ao longo dos caminhos e das encruzilhadas, ergueram pequenos monumentos dedicados a Apolo, Hécate e Hermes (divindades protectoras dos viajantes ).
Os Celtas também prestaram culto às divindades protectoras dos caminhos e encruzilhadas.
Os Romanos construíram pequenos altares nas encruzilhadas, principalmente, as que davam acesso aos campos de cultivo. Os Lares Compitales, deuses das encruzilhadas, eram venerados, sobretudo pelos camponeses e pelos escravos, mais tarde, o culto rural passou para os centros urbanos, erguendo-se altares, primeiramente, no cruzamento das povoações e seguidamente nas margens das estradas.
Alminhas da Batoca, Aboim

Durante muito tempo pensou-se que as Alminhas substituíram os altares dedicados aos Lares Viales e aos Lares Compitales dos romanos. No entanto pensamos que não há qualquer relação entre eles, porque e apesar da sua localização ser quase a mesma, expressavam mensagens diferentes. Enquanto os altares romanos tinham como finalidade a protecção dos campos e dos viajantes, as Alminhas apenas pedem a oração dos que por elas passam, em favor das almas do Purgatório.

Podemos afirmar que mil anos separam os altares romanos e o aparecimento das Alminhas. Só a partir do século XV aparecem efectivamente as representações artísticas do Purgatório, antes só muito raramente aparecem e não têm um modelo definido.

Os concílios de Leão ( II ), Florença e de Trento vieram reforçar o dogma da existência do Purgatório, mas foi, principalmente, a partir do concílio de Trento, em 1563 que este dogma foi fortemente fortalecido e difundido, assim como o foi o costume da “ encomendação das almas “.

O culto das almas e o fascínio que os caminhos e encruzilhadas sempre provocaram nas pessoas, contribuíram para que as Alminhas ocupassem o lugar dos anteriores altares romanos, mas isto não explica que as Alminhas tenham tido origem nos referidos altares.

Alminhas de Pondres, Queimadela

As Alminhas são uma das expressões mais originais da arte popular portuguesa e expressam a religiosidade do nosso povo.
O povo chamou ao oratório, ao painel ou retábulo com a representação do Purgatório, normalmente através de pintura, Alminhas. Estas representavam as almas que ardiam no fogo do Purgatório.

Situadas à beira dos caminhos, nas bermas das estradas, nas encruzilhadas, na frontaria das casas ou dos pátios, encontram-se por todo o país, embora em maior número no Norte e Centro.

As almas que ardem no fogo do Purgatório, simbolizado por uma fogueira, rezam para assim pedirem o auxílio dos santos como S.José, S.António entre outros, do anjo S.Miguel Arcanjo, de Jesus Cristo crucificado, da Virgem Maria e do Espírito Santo e pedem também às pessoas que por lá passam que rezem por elas, para poderem ir para o Céu.

As divindades representadas eram escolhidas pelos artistas ou por quem as mandava construir.

No livro Pintura em A Arte em Portugal ,vol. 2, pág. 99, pode-se ler: “As almas são normalmente figuradas como bustos humanos de adultos (...) de ambos os sexos, de todas as categorias, vocações e raças (...)”. As crianças, segundo a crença, eram puras de alma e sobem de imediato ao Paraíso, sem passarem pelo Purgatório, por isso não aparecem representadas nas Alminhas.

Alminhas, Cepães

Em Portugal, as primeiras representações artísticas do Purgatório só aparecem a partir do século XVI. Durante o séc. XVII, os quadros do Purgatório espalham-se mais ou menos por todo o país. No entanto, é difícil encontrar, nos nossos dias, painéis seiscentistas. No séc. XVIII as pinturas ao ar livre das cenas do Purgatório espalharam-se, em grande número, por muitos caminhos e povoações. Nos séc. XIX e XX as pinturas do Purgatório mantiveram-se. No nosso séc. quase todos os retábulos foram substituídos por painéis de azulejos.

Muitas Alminhas que, não possuem grades de protecção, são destruídas por pessoas ignorantes e maldosas e como quem detém o poder parece que desconhece o seu valor cultural, permite que isso aconteça. Neste momento, grande parte das Alminhas perderam os seus retábulos ou painéis e só lhes restam os oratórios.

Fernando Roque





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