Moinho de casca em Aboim, fundição de Massarelos, Porto 1866 Foto ATRIUM, 2010 |
«Há no concelho dois tipos de carvalho: o carvalho cerquinho, pouco vulgar, e que cresce principalmente na parte superior dos montes, e o albarinho, mais comum e de maior tamanho, conhecido em Guimarães por «molarinho».
Um e outro são aproveitados para lenha e "crabôu" de canudo que se prepara em fornos, nos montes; do albarinho extrai-se ainda a madeira que, por ser muito resistente se utiliza na construção de casas, carros de bois, arados, grades, cestos, etc. Mas a maior riqueza destes carvalhos, consiste na industria da casca, típica da região.
Malhôto |
Cada ano, durante os meses de Junho e Julho, os proprietários dirigem-se aos seus carbalhêdos para procederem à extracção da casca. Levam então o malhôto que utilizam da seguinte maneira: com o maço, batem no tronco de cima para baixo, de forma a fazerem um corte em toda essa direcção. Em seguida, faz-se novo corte do lado oposto. Com a ponta do cabo, tira-se a casca, sai em forma de canudo.
Em cada bouça extraía-se a casca, de quatro em quatro anos, aos carvalhos que a têm criada.
De ordinário, conhece-se que a casca está nesse estado, quando o diâmetro do carvalho atinge sete centímetros, aproximadamente.
Tirada a casca, levam-na para eiras, ou fica, exposta ao sol, a secar, durante dias e noites consecutivas. Depois de seca, vai a moer, para o pio, cuja mó é puxada por bois ou vacas, girando o eixo em tono do pastor.
Moinho de casca |
Moagem de casca nos anos 50 do séc XX |
Antigamente, usavam-se, para este efeito, engenhos de ferro, que existiram em Várzea Cova e Aboim, centros de maior produção de casca, mas tais aparelhos não «dbo a proba», isto é não davam o rendimento que os casqueiros ou curtidores desejavam para os curtumes, isto é, a casca não saía bem moída. Ainda pude ver um desses engenhos, incompleto em Várzea Cova.
Toda a casca produzida nas freguesias exploradas e, em geral, destinada à cidade do Porto e, principalmente à cidade de Guimarães, grande centro de fábricas de curtumes.
Casca ensacada, anos 50 do séc. XX |
Após a extração do tanino da casca, em curtimentos, aproveitava-se, depois de bem seca, para queimar e conservar o lume aceso. Arde sem chama, mas aquece e mantém vivo o lume durante horas.
Finalmente, a cinza desta casca é utilizada para adubo de terras.»
Fonte: Pereira, Maria Palmira da Silva, Fafe, Contribuição para o Estudo da Linguagem Etnografia e Folclore do Concelho, Coimbra 1952
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